Desafios e perspectivas na saúde pública da América Latina: Uma conversa com o Dr. Sergio Meneses Navarro
No campo da saúde pública, a América Latina enfrenta uma série de desafios complexos e urgentes. Para obter uma visão mais profunda desses desafios e explorar possíveis soluções, entrevistamos o Dr. Sergio Meneses Navarro, Pesquisador Nacional de Ciência e Tecnologia comissionado no Instituto Nacional de Saúde Pública do México. Com uma carreira de destaque como médico e antropólogo, o Dr. Meneses Navarro compartilhou algumas perspectivas valiosas sobre tópicos que vão desde a desigualdade estrutural até o papel transformador da tecnologia na área da saúde.
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Desigualdades sociais e assistência médica equitativa
Com relação às desigualdades sociais na área da saúde, o Dr. Meneses Navarro destacou a profunda estratificação que caracteriza as sociedades latino-americanas. Em suas próprias palavras:
"Essas estruturas de desigualdade, essas ideologias que estratificam nossa sociedade e determinam formas de maus-tratos, estão presentes em todas as áreas da vida. Até certo ponto, isso também explica por que somos tão tolerantes, porque normalizamos, por exemplo, a violência em nossos países, em lugares como Colômbia, Venezuela, México, América Central, onde temos sérios problemas de desigualdade, mas também várias formas de violência."
"Tudo isso não é alheio ao sistema de saúde. Dentro do próprio sistema de saúde, que está incorporado em nossas sociedades, não é um mundo separado; ali também se expressam morfologias e tratamentos em relação aos outros, e isso é um desafio quando se pensa em garantir um tratamento respeitoso ou bom para cada pessoa que atendemos."
Sergio destacou como as desigualdades no sistema de saúde são evidentes na segmentação da população com base no status empregatício, resultando em acesso e qualidade desiguais da assistência médica. O enfrentamento da desigualdade e da violência no setor de saúde tornou-se imperativo nos últimos anos, principalmente na América Latina, incluindo o México, onde persiste uma desigualdade profunda enraizada em ideologias discriminatórias como o racismo e o sexismo. Essa normalização da violência se estende ao setor de saúde, o que representa um desafio para o fornecimento de tratamento digno para todos. Reconhecer e confrontar essas desigualdades estruturais na área da saúde é essencial como parte de esforços mais amplos para promover a igualdade e a justiça social na América Latina.
Tecnologia e redução de desigualdades
Uma das áreas de foco mais fascinantes é o papel que a tecnologia pode desempenhar na redução das desigualdades. O Dr. Meneses Navarro enfatizou o potencial do uso da tecnologia para melhorar a cobertura e a qualidade da assistência médica, mas ressaltou a importância de programar essas tecnologias para evitar a reprodução de ideologias discriminatórias. De acordo com suas palavras:
"A tecnologia em medicamentos, a tecnologia em equipamentos... por exemplo, que também está tendo um boom incrível, a inteligência artificial, bem, também é um campo que pode nos permitir aumentar a cobertura, também melhorar a qualidade do atendimento... se vamos ter esses tipos de tecnologias, vamos programá-las para que não reproduzam essas ideologias e essas práticas, nas quais acho que podemos encontrar um consenso de que são indesejáveis e que queremos erradicá-las de nossa sociedade. Então, queremos eliminar essas ideologias que são prejudiciais e que causam danos, que causam violência e que, em última análise, também geram maus-tratos e geram morte, e até mesmo no sistema de saúde, morte devido a formas de atendimento ruins, práticas ruins."
Gestão da qualidade e acreditação em saúde
Ao discutir a gestão da qualidade e a acreditação na área da saúde, Sergio Meneses destacou um ponto crucial: a necessidade de considerar as estruturas de desigualdade nesses processos.
"Os efeitos da desigualdade estrutural foram omitidos, esquecidos... Nosso sistema de credenciamento deve incluir indicadores e ações específicas destinadas a abordar essas formas de maus-tratos e essas formas de violência. Por exemplo, ações concretas para prevenir e erradicar formas de violência contra a mulher, específicas não apenas em serviços de saúde sexual e reprodutiva ou serviços obstétricos, mas também no atendimento a doenças crônicas. Além disso, por qualquer motivo, inclua ações específicas para eliminar qualquer forma de racismo, classismo ou discriminação com base na identidade de gênero ou em motivos religiosos, e que de fato ocorram, ou por qualquer outro motivo, inclusive sua situação empregatícia."
-Dr. Sergio Meneses, INSP México
Ele enfatizou a importância de incluir indicadores específicos e ações destinadas a abordar as formas de maus-tratos e violência presentes no sistema de saúde.
Conclusões e reflexões finais
Ao longo da entrevista, ficou claro que a abordagem das desigualdades na saúde pública da América Latina requer uma abordagem abrangente que reconheça as interações complexas entre fatores sociais, econômicos e tecnológicos. As palavras do Dr. Meneses Navarro ressoaram com uma urgência e um profundo compromisso com uma saúde mais equitativa e justa para todos.
Em resumo, a entrevista com o Dr. Sergio Meneses Navarro forneceu uma visão reveladora dos desafios e oportunidades no campo da saúde pública na América Latina. Suas perspectivas bem fundamentadas e seu compromisso com a equidade na área da saúde oferecem um ponto de partida valioso para futuras pesquisas e ações nessa área crucial, que podem ser vinculadas a um sistema de gestão de qualidade e segurança para todos os pacientes.